terça-feira, agosto 18, 2009

Buenos Aires, 17 de Janeiro de 2009

"Le Bonheur n'est pas gai."
Jean-Luc Godard - Vivre sa vie

Parque Rivadavia, Buenos Aires.

Meu último dia inteiro aqui. E que dia bom. Comemos num restaurante bom perto da Corrientes. Comprei alfajores, um filme para minha mãe (é o Kamchatka) e para o meu pai a Rayuela. Fim das ansiedades com presentes, sem arrependimentos ou qualquer coisa do gênero.

Que bom! Que tranqüilo! Parece que estou sabendo me dar com os frios no coração, não de maneira conformista, superficial. Acordei semi-ressaca. A balada ontem foi ruim como balada, mas perfeita no meu aprendizado -aceitação-evolução de mim mesmo e da minha relação com o mundo.

Houve uma americana encantadora, uma rápida paixão. Não rolou. Um empecílio e minha rápida desistência. Tudo bem. Tudo bem do bem. Trocamos sorrisos e eu consegui decorar seu e-mail, no final. Cheguei em casa e mandei um xaveco poético via internet. Quem sabe a gente não se vê um dia?

Podia ter acordado deprimido, ou até acordei um pouco. Arrependimento? Sou ridículo? Foda-se!

No... no regrets.

Mais um dia quente após sonhos pertubadores. Ondas gigantes em Buenos Aires, compromissos, distância.

Mas a rua, o vento, o dia lindo; o dia se tornou lindo por dentro e por fora.

Aprecio uma visão agora que não terei mais. Meu irmão do meu lado. Por dentro e por fora. Estamos no Parque Rivadavia diante de uma árvore grande, bela e estranha, circundada por uma murada. Várias crianças nas raízes da árvore. Lindas crianças porteñas. Os bancos em volta. Civilização em paz. Numa murada-banco, diante de mim, senhoras de uns 50 anos dividem seu mate. Ou só a loira bebe. Não, passou para a amiga. Dois chicos sentaram ao seu lado. À minha direita dois homens e uma mulher conversam de boa. Bicicletas pequenas diante deles. Com certeza são pais das crianças na raiz.

Num banco mais distante à esquerda, três velhinhas sentadas. Conversam e sorriem.

A luz, mesmo de verão está linda. A sombra da minha mão esquerda é azul e escreve sobre o caderno.

Aaaaaah. O vento. Os sorrisos!

- Gaby, anda con los chicos, David! (Ou será Gáby?)
- Tengo sede!
- No esteja solo! Donde esta...

Mãe preocupada.
Gaby joga a tampa da garrafinha.

Muitas pombas ciscam entre luz, sombra, pedregulhos e grama.

O vento vai e volta. É vento e não vento. E às vezes levanta a terra e faz cortina de luz.

Sou feliz de uma felicidade minha; não totalmente alegre e por isso perfeitamente minha.

- Helado! Helado!
- Agua! Helado!

Não quero ser nada do que não sou.

Hoje estou solamente pleno.

Um comentário:

LorenaPiPa disse...

ai Tonzio... encontrei isso aqui jogado por aí num meio dum canto e pra variar me emocionei com essas coisas que você escreve (ainda não sei se pela presença familiar ou pelas palavras mesmo), mas parou por que?